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 • Personagem: Agostinho José Freire
 

Agostinho José Freire

Bacharel formado em Matemática pela Universidade de Coimbra; ministro e conselheiro de Estado, deputado, par do reino, major do exército, etc. N. em Évora a 28 de Agosto de 1780, fal. em Lisboa a 4 de Novembro de 1836.

Ainda muito criança veio para Leiria com seu pai, que tinha igual nome, e ali frequentou os primeiros estudos; seguiu depois para Lisboa a estudar humanidades, passando mais tarde a Coimbra, onde cursou a faculdade de Matemática, tomando o grau de bacharel em 1807 ou 1809.

Terminados os estudos recolheu-se a casa de seu pai, situada no lugar de Vidais, do distrito de Leiria, mas o vivo desejo de combater pela independência da pátria contra os franceses, o obrigou a alistar-se no regimento de infantaria n.º 10, a 16 de Outubro de 1809, sendo logo promovido a alferes.

Com este posto tomou parte nalgumas batalhas da guerra peninsular, conquistando pela sua bravura a promoção a tenente em Junho de 1811. Regressando a Portugal depois de ter assistido ás batalhas de Albuera, Vitoria e Pirinéus, foi promovido a capitão em 1815. Tendo terminado a campanha peninsular, matriculou-se na academia de fortificação, onde estudou dois anos, não chegando a concluir o curso, por haver sido nomeado assistente do quartel-mestre general do exército.

Em Dezembro de 1820 foi nomeado major, e eleito deputado ás cortes constituintes pela província da Estremadura. Na sessão preparatória de 24 de Janeiro de 1821, foi eleito por 50 votos para a comissão, que devia examinar os diplomas dos cinco deputados incumbidos de verificar os poderes e títulos dos outros membros da assembleia; logo nessa primeira reunião manifestou os seus sentimentos liberais, propondo com muito entusiasmo, patriotismo e grande dedicação pela liberdade, que fosse qual fosse a formula do juramento, se lhe acrescentassem as seguintes palavras: «...que nem perigo, nem violência, nem poder algum impediriam que se desse à nação a liberdade que ela reclama, e lhe foi solenemente prometida.» Tomou parte muito activa em todos os trabalhos daquelas cortes, ocupando seguidamente os lugares de secretário, de vice-presidente e de presidente; e não obstante a situação especial em que o colocou a escolha que dele fizera a assembleia, muitas vezes ergueu a sua voz em defesa de princípios, e de ideias de incontestável alcance para a prosperidade da pátria, a que dedicadamente se devota ra.

Nem a forma estranha e inexplicável como fora esquecida a sua patriótica proposta acerca do juramento, na primeira sessão preparatória, lhe fez esmorecer o ânimo no desempenho da missão que tinha recebido dos eleitores da província da Estremadura. Apesar de aprovado pelo congresso o referido aditamento, a comissão incumbida de redigir a fórmula do juramento, pusera de parte a proposta de Agostinho José Freire, que sofreu por isso a primeira decepção na sua vida parlamentar.

Na sessão de 7 de Fevereiro de 1821 propôs a maneira de serem remunerados e honrosamente despedidos do serviço de Portugal, os oficiais ingleses. A 15 do mesmo mês defendeu com energia, num eloquente discurso, a liberdade da imprensa. Foram numerosas as leis e disposições em que Agostinho José Freire colaborou, sendo membro das memoráveis cortes de 1821, não deixando de comparecer a todas as sessões, e tomando parte distinta nos debates. Para as cortes de 1822 foi reeleito por Leiria e Lisboa, continuando na câmara a sua gloriosa carreira parlamentar.

Em consequência dos acontecimentos políticos, que ficaram conhecidos pelo nome de Vilafrancada, viu-se obrigado a embarcar a 15 de Junho de 1822 com destino a Jersey, donde passou a Paris, percorrendo depois algumas províncias de França, Alemanha, Suíça e Inglaterra. Voltou a Portugal em seguida ao juramento da Carta Constitucional e foi reintegrado no posto de major de engenheiros, corpo para que havia sido transferido em Maio de 1821, sendo então mandado servir como ajudante de ordens e depois como chefe do estado-maior do marquês de Angeja.

Servindo em toda a campanha contra o marquês de Chaves, voltou a Lisboa quando faleceu o general com quem servia, e foi então encarregado de organizar um plano de defesa do sul do Tejo, sendo ao mesmo tempo nomeado para tomar parte na junta incumbida de formular a ordenança de infantaria. Apenas o infante D. Miguel desembarcou em terra portuguesa, o valente militar da guerra da península saiu do reino, e foi reunir-se a D. Pedro IV em Belle‑Isle, partindo dali com o imperador para os Açores, e ao desembarcar em Angra do Heroísmo, logo D. Pedro o nomeou ministro da guerra e interino da marinha.

Depois de haver prestado serviços importantíssimos para a organização do exército liberal e para os aprestos da esquadra que o devia transportar ao reino, acompanhou a expedição que veio desembarcar nas praias do Mindelo; o político tornou a ser soldado, distinguindo-se em várias acções nas linhas do Porto, especialmente no dia 29 de Setembro de 1832. Durante toda a luta continuou no cargo de ministro da guerra, trabalhando activamente em prestar elementos de defesa para a causa da rainha D. Maria II, e ainda depois de terminada a guerra civil, foi em 27 de Março de 1834 encarregado de ir ao quartel general tomar as disposições convenientes para a pacificação geral do reino, e evitar os sérios acontecimentos que alguns mais exaltados queriam realizar.

Em 24 de Julho desse ano foi nomeado conselheiro de Estado, e sendo eleito deputado pelas províncias da Estremadura e do Minho, apresentou nas cortes, como ministro, um desenvolvido relatório, que constitui um documento valioso e muito interessante para a historia da guerra civil. Tem por título: Relatorio do ministerio dos negocios da guerra, Lisboa, 1834 com 16 mapas, É da administração desde 3 de Março de 1832 nas ilhas dos Açores, até 4 de Setembro de 1834.

Em 24 de Setembro deixou a pasta da guerra para se encarregar da marinha, e em 15 de Fevereiro de 1835 passou para o ministério do reino, conservando-se neste lugar até 27 de Maio em que o gabinete foi demitido. Além dos serviços distintos que prestou no ministério da marinha, desenvolvendo a mesma actividade que manifestara no da guerra, adoptou como ministro do reino medidas dignas de menção.

Elaborou as instruções para a organização dos estatutos da Academia das Belas Artes, criou o conselho de Beneficência, introduziu melhoramentos na Biblioteca Publica, na Casa Pia, etc. Quando se demitiu o ministério, foi recolher-se no Real Colégio Militar, do qual fora nomeado director em 15 de Fevereiro de 1834. Também procedeu a grandes melhoramentos neste estabelecimento de educação militar.

Sendo elevado ao pariato, tornou novamente a encarregar-se da pasta do reino em 20 de Abril de 1836. A revolução de Setembro desse ano o obrigou a pedir a demissão e a adoptar o propósito de se recolher à vida particular, abandonando completamente a politica, mas na manhã de 4 de Novembro do referido ano de 1836, a rainha o mandou chamar ao paço de Belém, e quando para ali se dirigia, alguns soldados da guarda nacional postados na calçada da PampuIha, o assassinaram.

Assim terminou a existência, vítima da revolução que se denominou Belenzada, um dos homens mais notáveis nas campanhas da liberdade, um estadista que tantos serviços prestara.

 
 
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