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 • Personagem: Alfredo Keil
 

Alfredo Keil

Compositor de música e pintor contemporâneo muito apreciado. N. em Lisboa a 8 de Julho de 1854, sendo filho de Cristiano Keil, alfaiate alemão de muita fama já falecido, e que desde largos anos se estabelecera em Lisboa, gozando da geral estima e consideração, casado com D. Josefina Keil.

Fez os seus primeiros estudos no colégio inglês, da rua de S. Filipe Nery, a Entremuros, e em 1868, tendo apenas 14 anos de idade, foi para a Baviera encetar os seus estudos artísticos, e em Nuremberga é [que] começou a cultivar a arte.

A Academia de pintura era então dirigida por Kreling, um grande escultor, pintor e arquitecto. Kreling possuía uma bela casa no boulevard exterior da antiga cidade bávara, e ali reunia em jantares e concertos os seus discípulos que, além de desenho e pintura, aprendiam também musica.

De Nuremberga passou a Munique, mas a sua saúde obrigou-o a deixar a Alemanha e regressar à pátria, em 1870; uma pertinaz doença lhe atacara a garganta, doença que se tornaria incurável naqueles países frios. Em Lisboa continuou com o professor da Academia das Belas Artes, Joaquim Gregório Nunes Prieto, os seus estudos de pintura.

Em 1875 expôs pela primeira vez trabalhos seus na exposição da Sociedade Promotora de Belas Artes, e obteve o prémio de duas medalhas de bronze. Na exposição de 1876. o júri premiou com duas medalhas de prata os seus quadros A Sesta e a Meditação.

Em 1878 concorreu à Exposição Universal de Paris com o quadro Melancolia, que alcançou menção honrosa e o prémio pecuniário oferecido pelo governo português. Em 1879, na Exposição do Rio de Janeiro obteve a medalha de ouro, a única distribuída na secção de pintura. O governo português agraciou-o em 1885 com o hábito de Cristo, pelo seu mérito artístico. Em 1886, na Exposição de pintura de Madrid, apresentou dois quadros: Pátio do prior e Boa lâmina, que lhe mereceram ser condecorado com a ordem de Carlos III.

Em 1890 abriu no seu atelier, na Avenida da Liberdade, uma exposição onde apresentava umas 300 telas, na sua maior parte estudos de marinha e de paisagem, que foram quase todas adquiridas por diversos amadores, muitos deles estrangeiros.

O falecido rei D. Luís I, que era amigo de Alfredo Keil, adquiriu para a sua galeria alguns quadros do distinto artista, entre os quais se contam: A Saída da Igreja, figura de mulher do século XVI; A Primavera, grupo de mulheres e crianças num campo em flor; Marinha, pedaço das fragas da pitoresca povoação das Azenhas do Mar; um Pôr-do-sol, junto à ribeira de Colares.

Afastou-se depois das exposições, dedicando se com maior fervor ao estudo da música, onde lhe estavam também reservadas grandes glorias. No seu atelier de pintor havia um piano e o moço artista, de quando em quando, deixava o quadro em que trabalhava, e traduzia no teclado as melodias que a inspiração lhe cantava, em quanto esboçava na tela uma figura ou compunha uma paisagem.

Depois o teatro, com as suas glórias ruidosas fascinava-o, exercia uma poderosa sedução sobre o seu espírito impressionável e entusiasta de artista. Alfredo Keil não pôde resistir há tentação, deixou-se vencer pelos seus sonhos de grande maestro.

Ao tempo que estudava pintura, cultivava também a musica com o pianista húngaro Óscar de le Cinna e com o professor Ernesto Vieira, que lhe ensinou harmonia e instrumentação. As suas primeiras composições foram a polca Aurora, as valsas Teus olhos negros, Roses Pompons e Romance, editadas pela antiga casa Figueiredo, da rua do Carmo, que já há muito não existe; seguiram-se a Morenita, polca, Souvenir de Vienne suite de valsas, e Carnaval, polca, editadas pela casa Neuparth, que publicou então a obra musical mais importante de Alfredo KeiI, o primeiro volume das suas melodias oferecidas a D.Luís I.

Animado pelo bom êxito que as suas produções obtiveram, pensou em escrever para o teatro e o primeiro trabalho que apresentou, foi a opera cómica em 1 acto, Suzana, com letra de Higino de Mendonça, a qual se cantou na Trindade em 1882. Mas a sua fantasia levava-o mais longe, e começou a dedicar-se a trabalhos mais transcendentes; apareceu então o Recueil de melodias para piano; Pátria!, palavras de Gomes Leal, para piano e canto.

A Academia Real dos Amadores de música realizou dois concertos: no salão da Trindade, em que se executou a sinfónica As Orientais, letra de César Ferreal, a grande orquestra, coros e solos; e no Coliseu dos Recreios a cantata Pátria! letra de Schiappe Cadet, executada a grande orquestra, coros e solos.

Estas composições ainda se repetiram em outros concertos, e vieram distingui-lo como apreciado maestro, distinção que depois veio ainda corroborar o seu trabalho de grande vulto, a opera em 4 actos e 1 prologo, D. Branca, sendo o libreto extraído do poema do mesmo titulo, de Almeida Garrett, por César Ferreal. A ópera foi posta em cena no teatro de S. Carlos, à custa do seu autor, com extraordinário luxo e grandeza, depois de vencidas as inúmeras dificuldades que sobrevieram da parte da empresa.

A première da D. Branca, realizada em 1888 obteve um sucesso como há muitos anos se não observava no nosso teatro lírico. A sala estava completamente cheia; as pessoas reais, família e amigos de Alfredo Keil, os jornalistas distintos, os dilettanti, os habitués, todos se viam ali reunidos, ansiosos de ouvir a nova ópera, além de muitas outras pessoas que exclusivamente foram a S. Carlos nessa noite, movidas pela curiosidade e pela fama que a opera já alcançara durante os ensaios.

O êxito foi colossal, e durante noites sucessivas, e ainda na época seguinte, repetiu-se a opera recebendo as maiores manifestações de simpatia, havendo chamadas aos cantores e ao maestro, que foram alvo das mais brilhantes ovações.

Outra opera sua, Irene, em 4 actos, letra de César Ferreal, foi cantada em Turim no ano de 1893 e depois no teatro de S. Carlos, em 1896, também agradou muito, sendo Alfredo Keil aplaudido freneticamente. Em 1902 cantou se no teatro de S. João, do Porto, uma nova opera em 3 actos, A Serrana, que depois se cantou em Lisboa, onde também foi muito bem recebida.

Escreveu outra opera, intitulada índia, a propósito da comemoração do centenário da descoberta do caminho marítimo da Índia, e que dizem não ter entrado no programa das festas por obrigar a grandes despesas. Por ocasião das festas do centenário henriquino no Porto, em 1894, escreveu o Hino do infante D. Henrique que se executou no Campo da Regeneração por 4 bandas militares, caçadores 7, infantaria 18 e 20, e a guarda municipal, sendo ensaiado pelo professor António Canedo.

Na execução tomaram parte um grande numero de crianças de ambos os sexos e coristas adultos. Para o centenário de Gualdim Pais em Tomar, no ano de 1895, escreveu uma marcha intitulada Marcha de Gualdim Pais. A Portuguesa, hino patriótico, adquiriu grande popularidade; foi inspirado pelo ultimato do governo inglês de 11 de Janeiro de 1890, e cantou-se com o maior entusiasmo no teatro da Alegria no aproposito, intitulado, Torpeza, que se representou ali, devido à pena de António Campos Júnior.

A Portuguesa tornou-se um verdadeiro hino nacional e patriótico, escrevendo os versos Lopes de Mendonça. Alfredo Keil foi agraciado com a comenda da ordem de S. Tiago, e o governo italiano concedeu-lhe a comenda da coroa de Itália.

É membro da Associação dos Compositores de França, de que era presidente o maestro Ambroise Thomas. A ópera Serrana foi dedicada ao maestro Massenet. Publicou o opúsculo Colecções e museus de arte em Lisboa; Lisboa, 1905.

 
 
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