meu deus, se nos velas
diz-nos o que é que nos separa
e porque é que o sol demora
atrás da colina escura
anda dar luz ao caminho
que a gente assim desespera
é como sonhar sozinho
como se o mar fosse raso
e o céu não tivesse altura
sempre no silêncio
dá gozo a voz deste chão
mas ainda me dói a alma
na dor do corpo e das mãos
tenho medo deste frio
que à noite sinto no peito
como se andassem cavando
como se andassem fechando
buracos de solidão
agente não sabe
o que há depois do horizonte
a gente é um vulto curvado
com uma sombra defronte
a ouvir rumores na distância
a sentir dentro um segredo
feito de sonhos calados
feito de braços fechados
num poço fundo de medo
anda dar luz ao caminho
que já nos dói a demora
é como sonhar sozinho
um sonho que nunca vinga
num grito que nunca chora