a casa da mariquinhas
já nada tem que a destaque
as discretas tabuínhas
são dum velho bricabraque
em prol da urbanização
e d´outras leis citadinas
inventaram-se as ruínas,
impôs-se a demolição.
lá foram no turbilhão
muitas relíquias velhinhas,
porém, as fúrias daninhas
das inovações em suma,
por "salvação", ficou uma:
"a casa da mariquinhas"
mas, outra fisionomia
lhe deram; não tem guitarras,
lá dentro não há cigarras
cantando a sua alegria.
à porta por ironia,
há um porteiro, um basbaque,
a olhar por um "cadillac"
da pessoa que lá mora...
das coisas velhas d´outrora
já nada tem que a destaque.
no célebre primeiro andar
que a mariquinhas deixou
nem uma placa ficou
do seu nome a assinalar.
abertas de par em par
as janelas, são mesquinhas,
até as próprias vizinhas
confessam com amargor
que falavam mais de amor
as discretas tabuínhas.
a ti´ana, a capelista,
triste, queixa-se das vendas,
já não tem saída as rendas
nem os xailes à fadista.
o perdigão penhorista,
um velho de côco e fraque
diz que tudo esteve a saque,
que só ´spartilhos e ligas
porque eram coisas antigas
são dum velho bricabraque |