se não tenho outra voz que me desdobre
em ecos doutros sons este silêncio,
é falar, ir falando, até que sobre
a palavra escondida do que penso.
é dize-la, quebrado, entre desvios
de flecha que a si mesma se envenena,
ou mar alto coalhado de navios
onde o braço afogado nos acena.
é forçar para o fundo uma raiz
quando a pedra cabal corta caminho,
é lançar para cima quanto diz
que mais árvore é o tronco mais sozinho.
ela dirá, palavra descoberta,
os ditos do costume de viver:
esta hora que aperta e desaperta,
o não ver, o não ter, o quase ser |