Trovante
No Verão de 1976, cinco amigos ligados pela militância política e pelo gosto da música formam o grupo Trovante. Luís Represas na voz, o seu irmão João Nuno Represas nas percussões, João Gil na guitarra, Manuel Faria nos teclados e Artur Costa no saxofone deram início a uma longa aventura.
O primeiro disco, Chão Nosso (1977) é marcado pelo conteúdo militante das letras de Francisco Viana e pela colagem ao tipo de música de raiz etnográfica, à época muito em voga. O mesmo acontece com Em Nome da Vida (1978), álbum que surge no contexto da luta política contra a bomba de neutrões.
Em 1979 gravam o single Toca a Reunir, que conta, episodicamente, com a voz de Né Ladeiras, então em início de carreira.
Em Nome da Vida é um trabalho muito mais rico que o LP anterior, e anuncia já a densidade musical que explodiria em Baile no Bosque (1981). Com este disco, já sob a inteira direcção da banda, contando com a presença de Fernando Júdice (que passa nesse ano a fazer parte do grupo, tal como José Martins), e numa nova editora, desligados em grande parte da actividade política, os Trovante vão conseguir um grande êxito junto do público, das rádios e dos críticos.
A frescura do trabalho, que funde diversos géneros musicais numa síntese inovadora e festiva, onde se destacava o tema Balada das Sete Saias, veio equacionar os dados da música da época, em plena euforia do rock português.
Baile no Bosque vem demonstrar, ainda, que o grupo aproveitara com grande utilidade os anos de experiência adquirida com os maiores nomes da música portuguesa: José Afonso, Vitorino, Fausto, Sérgio Godinho.
Em 1983 é editado o sempre difícil álbum a seguir ao primeiro grande êxito. Cais das Colinas não tem, é certo, o mesmo sucesso do anterior, mas ainda assim causará impacto. Nele, salienta-se Saudade, um tema de João Gil, que começa a ter um crescente papel de compositor. Do grupo passa a fazer parte o baterista José Salgueiro, substituindo João Nuno Represas. Luís Represas, Gil, Faria, Costa, Júdice, Salgueiro e Martins serão a formação definitiva dos Trovante.
No ano seguinte sai, com grande sucesso, Trovante 84, do qual se destacam temas que ficam na história do grupo, como Xácara das Bruxas Dançando, Travessa do Poço dos Negros e o popularíssimo Molinera. Nesse ano o Coliseu de Lisboa assiste a dois memoráveis espectáculos, com lotações esgotadas, a que se seguiria o Rivoli do Porto.
Sepes, de 1986, é considerado o mais difícil e introspectivo trabalho do grupo. Ainda assim, dele sairá Fizeram os Dias Assim, mais um dos seus muitos hinos cantáveis.
No 10º aniversário da banda voltarão a encher os Coliseus de Lisboa e do Porto, em cinco triunfais noites de Maio.
Em 1987 editam Terra Firme, de sonoridade marcadamente mais pop e urbana. Dele notabilizaram-se 125 Azul, Perdidamente e Bye-Bye Blackout. É muito bem acolhido pela crítica e obtém um Disco de Ouro.
Culminando uma digressão nacional de grande sucesso, dão o grande concerto do Campo Pequeno, para uma plateia de oito mil pessoas, que é registado em vídeo e dá origem ao duplo-álbum Trovante ao Vivo no Campo Pequeno (1988) e atinge o Disco de Platina.
Um Destes Dias...(1990) o último trabalho de originais, consolida a linha de ferro Firme. Destacam-se as canções Timor, Objectos Perdidos e Baltazarblimunda.
No ano seguinte confirma-se a cisão da banda. João Gil e Artur Costa vão criar os Moby Dick, enquanto os restantes elementos (excepto José Martins, que já tinha deixado o grupo em 1988) tentam a continuidade. Mas rapidamente percebem que o projecto deixou de fazer sentido.
Em 1999 os Trovante voltam ajuntar-se para um único e memorável espectáculo, no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, a convite do Presidente da República Jorge Sampaio. Deste concerto resulta Uma Noite Só, o último registo e ao mesmo tempo uma síntese de uma década e meia de carreira. |